Cada mapa possui recursos gráficos distintos, que devem ser levados em conta para sua interpretação. A escolha de uma determinada projeção, uma escala e uma métrica (elementos que fazem parte do que se chama de fundo de mapa), vai de acordo com sua semiologia, ou seja, com o significado que se deseja passar com aquela imagem.
A reflexão sobre essa representação é fundamental no ensino da cartografia para que o mapa seja aproveitado na sua totalidade. E uma das maiores dificuldades é a reprodução das dinâmicas presentes no espaço: como pode um mapa, que faz um recorte de um momento no tempo e de uma porção do espaço, expressar variações no tempo ou movimentos no espaço?
Um exemplo de mapa que traz uma solução para expressar as variações no tempo foi produzido pelo geógrafo Hervé Théry, para a revista francesa Mappemonde. Em "Evolução da produção de soja de 1977 a 2002", é mostrado o deslocamento da produção de soja no Brasil por mais de 2 000 quilômetros para o norte do país em 30 anos. Observe a sucessão dos mapas quantitativos, na qual a variação do tamanho expressa a relação de proporcionalidade entre os diversos municípios produtores de soja. A sequência traz a dinâmica do fenômeno representado: locais de aumento e de diminuição de produção e a construção visual dos eixos de expansão da soja.
Mapas em 3D e mapas poluídos
O geógrafo Roger Brunet considera que, além da semiologia da imagem, é necessário também analisar as formas que o mapa apresenta. Portanto, não é somente identificar os elementos por meio da legenda, mas também verificar quais são as estruturas, os nós, as zonas vazias, os eixos, os arquipélagos e os formatos diferenciados que são passíveis de interpretação. E são essas as possibilidades de repertório visual explicativo do fenômeno da soja nos mapas de Théry. Veja também o mapa em três dimensões da produção do grão em 2002 e o mapa da variação da produção entre 2001 e 2002. Repare o quanto o nome dos lugares e das coisas pode prejudicar a visualização.
Leitura de mapas históricos
Todo mapa a ser utilizado em sala de aula deve levar em conta o contexto do cartógrafo, sua intenção e em quais circunstâncias o mapa foi feito. A comparação de representações históricas com as de hoje é bastante produtiva, pois coloca o questionamento do aluno sobre como os cartógrafos da época, sem os recursos técnicos de hoje, produziram traçados tão próximos da realidade. Observe a xilogravura de Giacomo Gastaldi (da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica). Trata-se de um ótimo exemplo da iconografia dominante dos mapas do Brasil a partir do século 16. E, como tudo no mapa comunica, inclusive o que está ausente, as poucas indicações de nomes dos lugares e os conhecimentos já acumulados sobre a costa brasileira naquele momento são uma das questões que podem ser levantadas com este mapa.
Outro ponto que pode ser abordado é a tensão entre o olhar vertical sobre a costa do Brasil do norte, um pouco além do que seria a foz do rio Amazonas, até a foz do Rio da Prata, e do olhar frontal e oblíquo dos demais objetos representados no mapa, como os índios e os morros. Por causa da representação vertical, o aluno identifica a imagem como um mapa. O que se pode ver de uma "realidade topográfica", que seria a comparação do traçado da costa com o traçado dos mapas atuais, é provavelmente a primeira relação que os alunos farão.
Vale notar também que, apesar de não aparecem os "índios canibais", muito comuns nas representações da época, vê-se um vulcão em erupção logo no limite das terras ainda não descobertas, localizadas no poente do mapa. Por fim, repare que a orientação é para o Oeste (diferentemente dos mapas atuais que são orientados para o Norte) e traz uma visão do viajante que chega ao litoral.
fonte: http://revistaescola.abril.com.br/geografia/pratica-pedagogica/cartografia-analise-diferentes-mapas-mundo-brasil-584372.shtml?page=0